Molejo que reserva Rincon Sapiência

Música, Memória, Nacional

| DIOGO MENDES | ( @diogmends )

Rincon Sapiência clip Elegância

Arte: Jeferson Lorenzato

A poesia do rap é incansável. Não tendo medo de encontrar seus próprios percursos, quando necessário criá-los, na luta para existir, antes mesmo da população brasileira ter migrado por completa para internet como internauta – termo, cada vez mais em desuso – há alguns anos atrás.

 

O vídeoclipe do hit Elegância (2009) de Rincon Sapiência utiliza do humor e da ironia para passar sua mensagem a respeito do espaço e impacto da arte, sobretudo musical. Trazendo o empoderamento como elemento chave, na letra e remixagem da faixa, que ganha o tom discursivo e coloquial.

 

Com direção de Gabriel Braga e Luis Rodrigues/ DJAHSMA, produção de Diogo Pinaffi e colorista Fernando Henrique da Silva. Mostrando para o que vieram, igual confirma a letra da canção: “ […] pra negocia e não associar só/ nossa arte a lagrimas em histórias/ nossa arte é força para busca gloria […] ”.

 

De um jeito que possa parecer de soslaio, o rapper já fez parcerias com alguns dos principais nomes da mpb contemporânea entre eles: Zeca Baleiro, Iza, NX Zero, Raphão Alaafin, Drik Barbosa, Rubel, Pedro, Tropkillaz, etc. Ademais, se empenha em oficinas de poesia e projetos sociais.

Rincon-Sapiência-clip-Elegância-gif

Arte: Jeferson Lorenzato

No vídeoclipe de Elegância, o artista invoca seu próprio nome, inclusive para se enaltecer. Enquanto as tomadas vão focando nos prédios da comunidade, de repente o mesmo de sorriso largo sai de um portão ajeitando um mp3, dispositivo analógico que era utilizado para armazenamento de músicas.

 

Passa por um grafite, que já começava a se desbotar, com jogadores da seleção brasileira da Copa do Mundo de 2006. Muito distraído, apenas fica escolhendo a faixa ao passo que sua música vai ganhando os primeiros versos. A risada continua em alto e bom som, porque não?

 

Logo ajeita o mp3 no bolso coloca seu grande fone de ouvido, rumo para curtição. Óculos escuros, rua vazia, todo cheio de pose, a música é sentida em cada quadro – como se não houvesse outros frames seguintes. Vida sendo vida, música sendo música, ambas corando as artes.

 

Encontrando amigos, acontece algum papo, que a música apenas confirma em versos após versos. A câmera agora acentua seu tênis de cores azul, amarelo e detalhe roxo; na música o rapper afirma que gosta de sempre andar arrumado. Outros grafites, por sua vez, aparecem interagindo

 

Felicidade não falta, boa música, boa vestimenta. De novo o artista troca de roupa em Elegância, reunido com pessoas envolvidas com o hip-hop. O vídeoclipe deriva para quadros desconexos e leves, em um brechó, Rincon Sapiência escolhe várias roupas todas de uma vez.

 

Topo é o limite, naquele momento em uma escada a intercalação de roupas continua. É quase momento de cair em uma festa, na sequência acaba ocorrendo. Dançando com as moças aleatórias, o rapper vai passando de cena em cena, também, acompanhado de amigos.

 

Cara fechada em meio ao fluxo do trânsito paulistano. A velocidade do vídeoclipe vai aumentando, conforme a canção que pede urgência, afinal vive-se tempos onde não se há mais tempo para absolutamente curtir. Novamente em uma fração de festa, o rapper se “teletransporta” no brechó.

 

Roupas usadas são pinçadas como troféus, na busca de uma identidade mais voltada para a personalidade. “ […] Metropolitano cor, cinza concreto/ na pegada africana nada discreto/ muito estilo pouco custo foi um conselho/ combinado amarelo verde vermelho […] ”, como aponta Elegância.

 

Em timbre de ironia, a filha de um típico grafino começa a se aprontar para assistir a possível festa/ espetáculo do artista na periferia. Desde as primeiras cenas que aparece o pai contracenando com a filha pode-se perceber que assiste um conteúdo violento em sua televisão.

~ ASSISTA:

Quanto aos frames de Elegância misturam sem conseguir a interpretação se vem do próprio eu artístico, ou da moça que iria no show, o até mesmo de seu pai. Humoradamente a música finda com o tédio em família, muitas vezes salvo-guardado por quem não contempla.

 

Molejo que reserva Rincon Sapiência muito tem de entranhado na realidade a despeito da autoestima do homem negro. Por essa estreita relação encontra o jeito para sobreviver, e mais, se banca. Cresceu na adversidade sem esquecer da mira no alto em ótima praça.

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